Falecido na madrugada deste domingo, Sócrates marcou a história da seleção. Foram oito anos com a camisa verde-amarela, às vezes azul, de 1979 a 1986. Não foi campeão do mundo, é verdade. Mas disputou duas Copas, a de 1982, com brilho intenso, e algumas de suas 63 atuações pela equipe nacional jamais serão esquecidas.
Pode-se dizer que Sócrates chegou tarde à seleção, pois a primeira convocação veio quando tinha 25 anos. Com seu jeito esguio e elegante, a técnica apurada, inteligência, objetivo e visão ímpar de jogo, porém, marcou época, notadamente naquele esquadrão montado pelo técnico Telê Santana em que tinha a companhia de Zico, Falcão e Cerezo, entre outros craques.
Um time que conviveu com a frustração de uma inesperada eliminação para a Itália no Mundial da Espanha. Mas teve a glória do reconhecimento como um dos melhores do planeta em todos os tempos.
Sócrates estreou na seleção sob os olhares de 60.627 pessoas que pagaram ingresso para ir ao Maracanã num 17 de maio de 1979. Viram ótima atuação do "Doutor" e um acachapante 6 a 0 sobre o Paraguai. O primeiro gol com a amarelinha viria 14 dias depois, também no Maracanã, num amistoso contra o Uruguai.
Um gol, não, pois Sócrates marcou duas vezes naquela ocasião. Na terceira partida pela seleção, mais dois gols, e um desempenho antológico num 5 a 0 sobre o Ajax, no Morumbi. O meia marcaria outras 23 vezes defendendo o Brasil, quatro delas em Copas do Mundo - contra União Soviética e Itália em 1982 e contra Espanha e Polônia em 1986.
E foi na Copa do México que Sócrates se despediu da seleção, no jogo que também marcou a despedida do Brasil no Mundial. Foi em 21 de junho, naquele 1 a 1 com a França, que depois levaria a melhor nos pênaltis. O "Doutor", aliás, perdeu uma penalidade na ocasião, defendida pelo goleiro Bats.
Com Sócrates em campo, a seleção venceu 41 vezes, empatou outras 17 e saiu derrotada em apenas cinco partidas. O meio-campista não conquistou nenhum título pelo Brasil, mas nem isso o impediu de ser considerado um dos grandes do futebol brasileiro.
Atuação política
Sócrates sempre foi um jogador de futebol diferenciado. Preocupado com sua formação, se tornou médico. Pensando no futuro político do País, fez parte da Democracia Corintiana e do movimento Diretas Já durante os últimos anos de ditadura. Mas o "Doutor" ou "Magrão", como era conhecido, também se destacou muito com a bola nos pés.
Nascido em Belém do Pará, no dia 19 de fevereiro de 1954, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira foi brilhar na maior cidade do Brasil. Em São Paulo, o meia se tornou um dos principais jogadores da história do Corinthians, clube que defendeu entre os anos de 1978 e 1984.
Antes, porém, surgiu para o futebol no Botafogo de Ribeirão Preto. No time do interior paulista, passou a chamar a atenção de diversos clubes, mas decidiu não sair de lá enquanto não terminasse a faculdade de medicina, que cursava na cidade.
Contratado pelo Corinthians em 1978, ele conquistou seu primeiro título em seu segundo ano no clube: o Campeonato Paulista de 1979. Voltaria a vencer a mesma competição em 1982 e 1983, marcando seu nome definitivamente entre os ídolos corintianos.
Na mesma época, ao lado de atletas como o lateral Wladimir e o atacante Casagrande, ajudou a criar a Democracia Corintiana, movimento no qual os jogadores do clube tinham direito a voto em questões que iam desde o pagamento de "bichos" até contratações de reforços.
Foi a melhor fase de Sócrates como jogador, que o levou para a seleção brasileira. Ele fez parte da geração que disputou a Copa do Mundo em 1982 e em 1986. Nesta última, acabou sendo apontado como um dos responsáveis pela eliminação do Brasil, por ter perdido pênalti na disputa diante da França, nas quartas de final.
Sempre politizado, Sócrates se envolveu com o movimento Diretas Já. Cobiçado por clubes da Europa, prometeu que se a emenda Dante de Oliveira, que estabeleceria as eleições diretas no País fosse aprovada, ele permaneceria no Corinthians. Como isso não aconteceu, acabou se transferindo para a Fiorentina, da Itália, em 1984.
Sem ter o mesmo brilho da época de Corinthians, ele retornou ao Brasil já em 1985, para atuar no Flamengo. Depois de dois anos no Rio, voltou a São Paulo, desta vez para atuar pelo Santos, onde ficou duas temporadas. Ainda voltou para o Botafogo para encerrar a carreira.
Depois de parar de jogar, Sócrates ainda se manteve ligado ao futebol. Até tentou a ser técnico por um breve período, mas não teve sucesso. Mesmo assim, usou jornais, revistas e programas de TV para expressar sempre as suas opiniões sobre o que acontecia dentro dos gramados.
Além do fato de ser politizado, Sócrates se destacava pela vida boêmia. Muito ligado à noite, nunca escondeu seu gosto por bebidas - chegou a admitir um problema com alcoolismo. Tal paixão teria gerado os problemas de saúde que culminaram com a sua morte na madrugada deste domingo, aos 57 anos, na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Sócrates, irmão mais velho de Raí, ídolo do São Paulo, deixou esposa e seis filhos.