domingo, 4 de dezembro de 2011

CIDADE FANTASMA NO SERTÃO DO CEARA ERA CHAMADA DE COCOCI

O outro imóvel ocupado por uma família está em melhores condições e possue um alpendre
O maior distrito de Parambu, Cococi, já se tornou histórico, por não ter vida própria e contar com apenas 7 habitantes
Parambu No dia de Nossa Senhora da Conceição,8 de dezembro, este Município e especialmente o seu maior distrito, Cococi, sofrem alterações na sua rotina. Distante 63km da sede do distrito, os sete habitantes da "cidade fantasma", como é conhecido o distrito que foi Município até 1968, vivem numa área submetida à desertificação, no meio do Sertão dos Inhamuns. Convivem com prédios em ruínas, o isolamento, silêncio e a solidão. Somente neste período do ano, há movimentação em Cococi.

"É o tempo todo assim, somente a gente. Calmo, sem movimento e muito silêncio. Mas já sou acostumada. A animação é no período da festa, parece que nem é aqui, é tanta gente e muita alegria e animação. Quando termina e sai todo mundo, fica ruim. Um vazio. Então, sinto falta de gente. Depois acostumo de novo", relata Maria Clenilda Lô, uma das moradoras que habita o lugar. A sua família, composta por três pessoas, reside em uma das duas casas em condições de moradia na sede do distrito. Há outra família, com quatro integrantes, na outra residência.

A Igreja, construída por volta de 1740, é a única construção intacta e preservada no local. Pintada de branca, bem cuidada, a construção é de grande beleza arquitetônica. Destoa dos prédios caídos, deteriorados e ruínas que compõem a paisagem de Cococi.

Segunda maior

A festa em homenagem à padroeira é a segunda maior do Município, ficando atrás apenas da festa de São Pedro, padroeiro de Parambu. Chama a atenção pelo grande público, vindo do próprio Município, das vizinhas cidades de Tauá, Arneiroz, Aiuaba, Quiterianópolis, de municípios do Cariri e até de outros Estados do País. Muitos filhos de Parambu e as gerações da família Feitosa escolhem esse período para visitar o Município de Parambu, renovar a fé e rever familiares.

O centro da comemoração é a festa religiosa, composta por novenas, celebrações, batizados e sacramentos. Mas a movimentação vai além da programação religiosa. Tem festejo social. Barracas, serestas, shows, desfiles, escolha da rainha, bingos e leilões fazem de Cococi o lugar mais animado e frequentado de Parambu neste dia.

Devoção

O atual pároco de Parambu é natural do Cariri e está no Município há menos de dois anos. Diz-se impressionado com a fé e fervor da população nos festejos da padroeira de Cococi. "É uma das maiores festas aqui da Paróquia. Um festejo específico e um fenômeno incomum, pela devoção, fé e participação das comunidades e, especialmente, porque moram lá somente duas famílias. No período da festa, aparece gente de todo canto", classifica o padre Márcio Claudi.

O pároco diz que fenômenos religiosos com tamanha devoção e participação em uma região distante, de difícil acesso e com poucos habitantes, são raros. Atribui à forte questão histórica da antiga cidade e à devoção à Imaculada Conceição. "Não estranho pelo fato de vir de uma região cuja religiosidade também é muito forte, mas admiro porque a situação aqui é diferenciada. O distrito é grande, mas pouco habitado e as comunidades muito distantes, com acesso ruim e isso tudo não impede que seja uma grande festa à Nossa Senhora", reflete.

A devoção do povo é tão forte que nos dias da festa ocorrem procissões, romarias, momento mariano e até um acontecimento tradicional organizado pela família Feitosa, conhecido como "burrada". Membros que residem em Teresina, no Piauí, vêm à Cococi a cavalo. "Eles formam um grupo e chegam ao local na véspera da festa, todos os anos", lembra Albetiza Noronha, do Museu Municipal.

Muitas pessoas em Parambu e Municípios vizinhos se preparam para pagar promessas à Imaculada Conceição, sustentando antiga tradição. "Forma-se grupos de pessoas que receberam bênçãos e milagres e vão à festa em procissão, a pé", destaca Albetiza.

Resgate

Para Vital Feitosa, que nasceu e viveu sua infância em Cococi, preservar a tradição dessa festa e da antiga cidade é importante para as novas gerações da família, que fundou Cococi.

Desde pequeno, Vital participa das procissões. "Eu lembro da festa dos vaqueiros quando era criança e hoje meus parentes vêm da cidade de Teresina, tentam resgatar e preservar esses costumes, com a realização da ´burrada´. Participo e também colaboro com essa festa histórica", revela.

Programação

Com o tema "Com Nossa Senhora da Conceição queremos cuidar da vida, dom de Deus", a festa iniciou no último dia 29 de novembro e encerra dia 8 de dezembro. Todas as noites ocorrem celebrações, presididas por padres de Parambu e região. As comunidades do distrito participam, mas o ápice é no dia 8, em que são realizados procissão, missas e batizados. Neste dia, a "cidade fantasma" perde o silêncio e ganha muitos visitantes.