Russas. Após o descanso do dominical 1º de janeiro, o primeiro dia útil de 2012 foi logo uma segunda-feira, e, para a cidade que tem um novo milionário, o dia ontem amanheceu com uns olhando para os outros numa gigante curiosidade. A pergunta que não quer calar é "quem virou milionário?". "Não fui eu" foi a frase mais repetida ontem pelo vendedor de batata frita Raimundo Brito da Mata. Muita gente acha que foi ele o vencedor da Mega-Sena da virada. Ele jura que não ganhou, pois não jogou, e a aposta feita pelo filho não teve sorte. E está preocupado com as consequências do "boato" que se espalhou rapidamente pelos quatro cantos das calçadas e da internet. Já que o dono do bilhete premiado ainda não compareceu à única casa lotérica da cidade, a dúvida persiste.
"Foi um vendedor", ou um "vereador?". São muitas as informações. Quem não votou está torcendo que um parente, pode até ser distante, tenha levado a bolada. Porque quando se espalhou a informação que se Raimundo de Brito, o "Raimundo Batatinha", tinha ganhado na mega-sena parentes e amigos de São Paulo, Brasília e Recife já tinham ligado para dar os parabéns. E o dia de ontem inteiro os "parabéns" era seguido de um "me dá um dinheiro aí", dito das mais diversas formas. Os filhos de Raimundo também não tiveram paz. Gente de todo lugar ligando para parabenizar e pedir uma nobre ajuda. Pode ser pagar o resto das prestações do carro, ou uma casa nova, e a lista de pedidos (e amigos) é grande aparecendo de todo jeito.
Nem o próprio seu Raimundo sabe dizer onde surgiu a notícia de que ficou milionário. Mas de acordo com o que a reportagem apurou, essa informação já era repassada desde a noite sábado para domingo, quando os filhos do vendedor curtiam o réveillon em Canoa Quebrada. "Meus amigos me acordaram dizendo ´levanta, seu pai é o ganhador da mega-sena de Russas´", afirma Saul Santiago, que diz ter ficado tão atordoado que só soube da verdade quando conseguiu falar com os pais já na manhã do dia seguinte. "Eu não ganhei mas estou sofrendo as consequências ruins de um ganhador. As pessoas procurando, pedindo as coisas, até onde eu trabalho parabenizaram e pediram para eu dizer quando vou deixar o emprego para que possam substituir", diz seu Raimundo. A esposa, dona Marlene, é cabeleireira, e diz que não vê a hora de o "boato" parar, pois "isso tá tirando o sossego da gente".
Um dos filhos do vendedor, Tomas Dasayevsky, fez duas apostas na Mega da virada. A reportagem solicitou os boletos não-premiados. Tomas trouxe um. "O outro a minha mulher jogou no lixo", afirmou. Ao ser questionado pela reportagem se não acha que isso acabaria dando mais brecha para a dúvida das pessoas, seu Raimundo afirmou que "eu adoraria ter ganhado, mas a verdade é essa, quem sabe eu ganhe neste ano".