O risco de ser morta por pistoleiros levou a juíza de Tabuleiro do Norte a ser removida, em caráter extraordinário e protetivo, da comarca onde trabalhava como titular para outra área do Estado. A magistrada, que vinha atuando em conjunto com o Ministério Pùblico contra um grupo de matadores e assaltantes, recebeu, há pouco mais de 15 dias, um aviso. Por telefone, deram o alerta de que ela seria executada até hoje, último dia de agosto.
O denunciante foi um anônimo que, na ausência da juíza, passou as informações para um funcionário do fórum. Indicou a casa onde estariam “acoitados” os pistoleiros e o transporte que seria usado por eles para consumar a morte por vingança, e encomenda.
Avisada, a juíza acionou a Polícia e, numa tentativa de surpreender os supostos pistoleiros, autorizou uma busca e apreensão no endereço indicado. Não houve prisões na ação policial. Mas na casa, situada na localidade de Passagem, os policiais encontraram uma moto Yamaha 250/Lander e uma escopeta calibre 12. Em nova investida da Polícia Militar, numa outra pista, também foi apreendida uma pistola Ponto 380 com 34 cartuchos.
A ameaça de morte contra a juíza, de acordo com o promotor Aníbal Cardoso, seria a reação de uma quadrilha que atua numa região do Ceará conhecida por “produzir” matadores de aluguel. O grupo estaria envolvido também com o tráfico de drogas, roubo de cargas e receptação.
No dia 29 de julho deste ano, a juíza ameaçada expediu uma série de mandados de busca, apreensão e prisões temporárias que resultou na captura de sete suspeitos de participação do crime organizado na região jaguaribana. Quatro acusados permanecem presos.
Coincidência ou não, um dos detidos estaria com passagem marcada para o Rio Grande do Sul. O que levou a polícia a suspeitar, depois de cruzar informações anônimas, que um dos pistoleiros (que foi apontado como provável executor do atentado contra a juíza) fugiria para a região Sul do Brasil.
Dez assassinatos
O grupo criminoso, que está sendo investigado pelo delegado Luciano Barreto, titular da Delegacia Regional de Russas, seria responsável por pelo menos dez assassinatos na Região Jaguaribana. “Compreenda, ainda não posso falar nada sobre este caso. Não quero comprometer o trabalho policial”, justificou Barreto.
Foi apurado que os dez homicídios, que até aqui não têm autoria definida, ocorreram entre os anos de 2007 e 2009. Muitos dos inquéritos foram arquivados porque a Polícia Civil não conseguiu chegar a nenhum culpado.
Acionado pelo Tribunal de Justiça, após pressão de alguns juízes da Região Jaguaribana, o secretário da Segurança Pública do Ceará, coronel Francisco Bezerra, determinou que uma força tarefa organizasse a confusa rotina da delegacia de Tabuleiro do Norte. A ordem é colocar em dia os inquéritos e sistematizar informações que possam estar ligados à atuação da quadrilha que ameaçou a juíza e comanda parte do crime organizado na região. Duas delegadas, três inspetores e dois escrivães foram enviados para o município na semana passada. Por 15 dias, tentarão rastrear novas pistas e indícios dos crimes atribuídos ao grupo.
”POLICIAMENTO SATISFATÓRIO”
Para o tenente-coronel Giovani Mendonça Guedes, 48, comandante da 4ª Companhia do 1º Batalhão da PM, o policiamento existente em Tabuleiro do Norte é satisfatório. “Não é o ideal. Necessitaria de um efetivo maior para atender a demanda da zona rural. Mas estamos trabalhando bem com o que temos”, garante. Segundo o militar, atende às demandas.
Quanto à segurança oferecida para o caso que culminou com a remoção da juíza de Tabuleiro do Norte, Giovani Mendonça explica que tudo que foi solicitado pela magistrada foi atendido de imediato. “Tanto que conseguimos realizar as prisões, apreender a moto Yamaha, uma escopeta e uma pistola com 34 cartuchos”, detalha.
Segundo Giovani Mendonça, ao ser acionado pela juíza, deslocou também de Limoeiro do Norte para Tabuleiro um grupo tático composto por oito policiais. “Enquanto a doutora permaneceu aqui, quatro homens a acompanhavam no fórum e na residência dela”.
Do Tribunal de Justiça, em Fortaleza, de acordo com o tenente-coronel Giovani Mendonça, foram enviados um oficial e dois soldados, que ficaram à disposição da segurança diária da juíza.
Perguntado se há necessidade de ter segurança individualizada para os três juízes e o promotor, o tenente-coronel respondeu que “não”. Que a polícia está à disposição da cidade de Tabuleiro do Norte e de qualquer pessoa que seja ameaçada de morte. “Os juízes e os promotores estão recebendo total apoio. A polícia e o Estado estão presentes para fazer cumprir a lei em Tabuleiro”, afirmou.
O tenente-coronel Giovani Mendoça também revelou que a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social enviou para Tabuleiro do Norte, na época da ameaça de morte à juíza, policiais da Coordenadoria de Inteligência (Coin) e duas viaturas do Batalhão de Choque da PM.