sexta-feira, 5 de agosto de 2011

VEREADOR ACUSADO DE RECEBER DINHEIRO PARA BANHEIROS

Raimunda Marcolino, com a filha Vitória, tem casa própria, mas passa o dia com a mãe, onde há banheiro (SARA MAIA)
Era oportunidade de não depender diretamente do setor público e fazer com as próprias mãos o que, há muito, necessitava. A Associação Comunitária José Veríssimo Duarte, situada no Sítio Mosquito, na zona rural do Cedro, assinou convênio com a Secretaria das Cidades e conseguiu verba para a construção de 47 banheiros. Mas o dinheiro saiu do poder do grupo. Teria ido parar nas mãos de um vereador. É ele quem guardaria a verba recebida desde 2010 e articularia a construção dos kits, segundo o presidente da entidade. O parlamentar nega (ver Bate-pronto ao lado).

O presidente da Associação, o agricultor Antônio Cipriano de Sousa, 58 anos, conta a seguinte história: tempo atrás, o vereador Antônio Hélio Bezerra (PSDC) pediu ao governador Cid Gomes (PSB) verba para a construção de banheiros na região. Cid, por sua vez, teria respondido que só assinaria convênio se fosse por meio de uma associação comunitária. Hélio procurou, então, os moradores, para que providenciassem a documentação e acertassem o repasse.

Quando recebeu cada uma das duas parcelas do convênio, no valor de R$ 94 mil, por meio de conta bancária em nome da associação, seu Cipriano repassou o dinheiro ao vereador, que se consideraria o líder da iniciativa. A primeira leva, de 26 banheiros, entregue em setembro do ano passado, teria sido construída com material comprado num depósito de construção do próprio parlamentar. A segunda, concluindo os 21 kits restantes, estaria dependente de conserto do caminhão-caçamba, também propriedade de Hélio, que o alugaria para frete. E quem estaria construindo? “Os rapazes do vereador”, indicou o presidente.

Mudança de rota
A última parcela do recurso, no valor de R$ 46 mil, foi liberada desde outubro do ano passado e, desde então, estaria em poder do parlamentar, segundo o presidente da entidade. Às vistas da população somente algumas pilhas de tijolos, amontoadas próximo a casas, sinalizando uma futura construção. “Eu acho muito errado isso ser pela associação e não estar administrado pela associação”, criticou Cipriano.

Enquanto isso, 21 famílias permanecem sem estrutura mínima para higiene. A agricultora Raimunda Marcolino, 28, mesmo com casa própria, onde mora com o marido e a filha, Vitória Marcolino, 4, passa o dia na casa da mãe, onde há banheiro. Ele só volta para casa na hora de dormir, atravessando a estrada e caminhando matagal adentro.

ENTENDA O CONVÊNIO

Assinado entre a Secretaria das Cidades do Estado e a Associação Comunitária José Veríssimo Duarte, existente desde 1994. A associação não tem sede. Encontros são realizados na Escola de Ensino Fundamental Raimundo Vieira da Costa. O endereço apresentado do convênio é o da residência do presidente, Antônio Cipriano.

Prevê contrato no valor de R$ 94 mil para a construção de 47 kits sanitários, entre junho e novembro de 2010. Os recursos foram liberados em duas parcelas: R$ 48 mil, em julho de 2010; e R$ 46 mil, em outubro de 2010.

Dos 47 banheiros, 26 foram entregues, em setembro do ano passado, dois meses depois de celebrado o contrato. Desde então, os moradores dizem não saber o motivo da paralisação.

No Portal da Transparência do Estado, o convênio está inadimplente com a efetivação da segunda parcela liberada.