terça-feira, 2 de agosto de 2011

A VIA É MINHA

Os ganhos mínimos quando as pessoas se colocam em lugar das outras são concessão e paciência. Pelas pistas de ruas e avenidas fortalezenses, são carros, motocicletas, motonetas, bicicletas, caminhões, ônibus, vans e pedestres. Tamanhos e velocidades diferentes trabalham em função de objetivo privado mas comum: locomoção. É preciso atravessar os bairros e sobreviver a buzinaços, buracos, desrespeitos, acidentes, estresses.

“A direção defensiva não é aplicada nem pelo motociclista, nem pelo motorista. ‘A via é minha’, todo mundo pensa. Assim não dá”, resume o diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), o médico Dirceu Rodrigues Alves Junior. Com a visão de domínio total sobre o veículo, tanto os motoristas quanto os motociclistas advinham errado: se eu piloto/dirijo bem, não devo me preocupar. “O condutor da moto está a beira do abismo. A fragilidade desse meio de transporte é muito grande”, adverte o médico.

Dirceu acredita em educação para o trânsito como primeiro passo para maior cidadania sobre rodas. Desde as primeiras séries escolares, as crianças precisam entrar em contato com as realidades viárias e as premissas para o bom convívio no trânsito – respeito e prudência a encabeçarem a lista.

“Enquanto não vivemos essa utopia, reciclagem para os condutores de hoje. É preciso voltar para as salas de aula, relembrar noções de cidadania”, martela o diretor da Abramet.

O que diz a lei
A legislação bem podia ajudar. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi elaborado há 14 anos, em 1997, não prevê artigos específicos às motocicletas. Pudera, a realidade das cidades grandes à época era outra. Conforme o engenheiro civil e mestre em transporte, Creso de Franco Peixoto, mesmo omissa, a redação inicial da lei previa menção à moto, vetada em seguida. O artigo esquecido dizia: A moto deve trafegar como o carro. “O espaço entre veículos está ali para evitar batidas laterais. Quando a moto trafega no corredor, rouba esse espaço, deveria estar em uma das pistas, como os carros”, opina o especialista.

O presidente da Associação Brasileira de Motociclistas (Abram), o escritor Lucas Pimentel, é taxativo: exigir das motos o mesmo comportamento dos carros traria mais acidentes. “A moto precisa de tempo hábil pra ver os obstáculos, fica vulnerável em baixa velocidade e precisa manter distância porque demora a frenar. Seria preciso ficar a 40 metros do carro em frente. O carro de trás faria a ultrapassagem, não adiantaria de nada”, esclarece o Lucas.

Qual comportamento evita acidentes e estresses

MOTORISTAOs objetos estão mais próximos do carro do que o retrovisor deixa prever. A moto a 60km/h leva mais de 30 metros para a frenagem completa. Sem sinalizar a intenção com antecedência, o motorista complica a vida de todo mundo.

Não seja hostil com o motociclista, não importa quem tem a razão. Aconteceu o acidente, ele já está derrubado e ferido, caso esteja vivo. Poupe o condutor dos xingamentos. Primeiro é covarde. Depois, os outros motociclistas vão se compadecer do colega.

MOTOCICLISTAQuando o carro sinaliza mudança de faixa, dê passagem. O trânsito precisa fluir por inteiro, não é só você quem se atrasa para o compromisso. Reduza a velocidade, deixe-o seguir caminho.

A velocidade da moto não pode ser igual à máxima da via. Depois dos 40km/h, o veículo está confortável e equilibrado. Em pista para 60km/h, o motociclista com a velocidade máxima corre e oferece riscos.