Era para ter sido uma ida rotineira à mercearia do quarteirão ao lado. Mas o encontro com um coleguinha mudou o rumo do caminho de Yuri Melo de Sousa, 8. Na bicicleta do vizinho, ele seguiu na direção oposta a pedida pelo pai. Tentou cruzar uma fenda no chão cujos lados estavam ligados por uma tábua. Acabou caindo no buraco, cheio de garras de ferro. Teve o corpo perfurado e morreu. A menos de 50 metros de casa. A história acima foi contada ao O POVO, pelo autônomo Antônio Matias de Sousa, pai do garoto, em sua casa, na tarde de ontem.
Segundo ele, passava das 20h oras do último sábado, 3, quando a tragédia aconteceu na comunidade Parque Santana III, no bairro Mondubim, em Fortaleza. O local: uma obra de drenagem da Prefeitura reivindicada pelos próprios moradores no Orçamento Participativo. O lugar é parcialmente isolado. E a placa colocada na rua não alerta para perigo de acidentes.
Tampouco impede o trânsito de veículos. Diz apenas: “Prefeitura trabalhando. Desculpem o transtorno”. “É assim desde que começou”, denuncia a mãe Maria Freitas de Melo, 44.
Testemunhas disseram ao O POVO que Yuri foi retirado das ferragens por um rapaz que estava na calçada no momento do acidente. “Ele pensou que o menino tinha só se arranhado e colocou no chão. O Yuri correu na direção de casa, mas desmaiou”, relatou uma moradora.
Foi quando Antônio Matias recebeu a notícia do filho caído. “Me disseram que ele tinha desmaiado. Mas, quando peguei no braço, meu filho já estava era morto. Um ferro entrou mesmo no peito...no coração”, lembra.
Segundo moradores, uma ambulância foi chamada e não chegou. O transporte até o hospital mais próximo acabou feito por um carro de passeio. “Ele deu entrada aqui em óbito. Mesmo assim, foi atendido e entubado. A gente tentou de tudo, porque não sabia há quanto tempo tinha morrido e podia ter chance de reanimação”, descreveu ao O POVO a enfermeira do Hospital Distrital Gonzaga Mota do José Walter, Lúcia Aquino.
O enterro aconteceu na tarde de ontem, no Cemitério Parque Bom Jardim. “Posso dizer que a Prefeitura fez num foi um buraco de obra não. Ela cavou foi a cova do meu filho”, cita o pai.
À família, resta apenas o lamento pela interrupção dos sonhos de Yuri. “Ele queria terminar os estudos, comprar um carro, ser motorista e levar a mãe pra passear por aí”, revela a irmã Jaqueline Freitas de Melo, 19.
Em nota, a Secretaria Executiva Regional (SER) V disse que “lamenta profundamente o fato” e garantiu a existência de sinalização na obra, tanto vertical quanto de isolamento e placa de advertência a um quarteirão do canteiro, “no intuito de chamar a atenção das pessoas que circulam pela área”.
O texto diz ainda que a obra “está sendo realizada há aproximadamente três meses, mas por conta das chuvas, teve o prazo adiado por mais 60 dias”. Para hoje, a Regional prometeu o envio de uma equipe ao local e intensificar, “se necessário, as medidas de isolamento da área”. Moradores do Parque Santana III dizem que acidente é culpa da falta de isolamento da área em obras. Como o local onde Yuri morreu é de fácil acesso e a parte das telas de tapume está caída, eles temem que novas mortes aconteçam.
A obra consiste em serviços de drenagem, terraplenagem e reforma do pavimento das ruas do Parque Santana III.
Yuri tinha quatro irmãos: dois de sangue e dois por parte de mãe.
Na rua, todos disseram que ele era um garoto tranquilo, que adorava estudar e era muito prestativo.
O boletim de ocorrência do caso de Yuri foi registrado no 5º Distrito Policial, na Parangaba.
